sábado, 7 de janeiro de 2012

Cumprindo resoluções e promessas

Hoje é 7 de janeiro. Minha postagem mais recente foi no dia primeiro. No último dia do prazo, no deadline, estou cumprindo uma das resoluções de início de ano que fiz aqui: escrever pelo menos duas vezes por semana no blog. Um bom começo, apesar de a outra principal ainda estar no débito - não corri 50 metros essa semana! Mas há motivo: "problemas femininos" têm me deixado indisposta para qualquer atividade mais pesada, desde arrumar muitas coisas em casa, treinar corrida, ou pegar o metrô (devo confessar que tenho evitado o metrô graças ao Marido, de folga em casa e me mal-acostumando com carro para ir e voltar do trabalho, rs).

Vamos dizer que cumprir um compromisso me anima e fortalece para cumprir os seguintes. E já que estou nessa vibe de pagar minhas dívidas - financeiras e de palavra - hoje farei um outro pagamento e falar do Gianecchini. Ele voltou a ser internado e esse foi o gancho que me trouxe para o assunto.

***

Reynaldo Gianecchini descobriu no ano passado que estava com um câncer no sistema linfático, e seu tratamento é noticiado o tempo todo. Esta semana, ele foi internado sem motivo divulgado, mas agora já se sabe que a internação é o preparativo para o autotransplante de medula pelo qual ele vai passar. Mas o que me motivou a falar do ator não é o simples fato de ele ter câncer como eu; mas sim uma declaração que ele deu e foi mal interpretada: quando começou a fazer quimioterapia e visitou crianças que estão na mesma luta, Giane disse que "a doença poderia ser uma dádiva". O ator se referia à quantidade de afeto que estava recebendo. Choveram críticas de que ele estava fazendo um desserviço a quem sofria com o câncer.

Na boa, que gente chata... Quando descobri que tinha um tumor e contei aos meus amigos, a melhor coisa foi receber ligações, e-mails e mensagens de pessoas me encorajando, dando apoio, se colocando ao meu lado. No caso dele - e da Dilma, do Lula, e tantas outras "pessoas públicas" - isso é elevado à enésima potência, por causa de uma legião de desconhecidos que se dispõe a enviar mensagens e rezar. Isso realmente aumenta nossa força, e era sobre essa dádiva que o cara falava. Só quem passa por uma situação difícil e ainda tabu sabe o quanto esse limão pode virar uma limonada por meio do amor que acaba nos rodeando...

Acho que ainda não disse aqui como fiquei mais sensível aos casos públicos de câncer depois que me descobri doente. Sempre ficava triste ao saber que alguém famoso ou próximo de mim de alguma maneira estava doente, em especial com câncer. Mas depois da minha experiência, chego a chorar quando vejo esssas histórias. Primeiro foi a Drica Moraes, recuperada, falando de como se sentiu; depois, a Marcia Cabrita contando no seu blog que não queria mais ficar falando sobre isso e ser usada de exemplo e conselheira. Por último, foi a entrevista do Reinaldo Gianecchini no Fantástico. Ver aquele homem lindo, em rede nacional, em um momento difícil, com toda a calma e serenidade do mundo falando sobre seu tratamento, foi uma coisa que me tocou muito. A força e o despojamento dele me pegaram fundo. Mas nada se compara em termos de sensibilização à morte do Steve Jobs.

***

Quando eu soube pelo Facebook da morte do criador da Apple, foi esquisito. Cada um que morre de câncer me deixa uma sensação estranha, me faz ter um confronto com essa realidade - se bem que a morte é uma realidade para qualquer pessoa, mas depois falo disso. No caso de Jobs, eu tinha uma desconfiança de que o tumor dele era o mesmo que o meu. 

 O tipo de câncer que Jobs teve nunca foi divulgado. Mas, na manhã do dia seguinte à morte dele, na sala de espera do Lamina pra fazer meus exames de acompanhamento (a vida realmente tem senso de humor - negor, rs), o Bom Dia Brasil fez a descrição detalhada do câncer dele, sem dizer o nome. O médico Luiz Fernando Correa comentou que era um tumor raro, raríssimo; que os primários apareciam mais comumente no pâncreas, no intestino ou no pulmão; e que a metástase, quase sempre letal, era no fígado. Chorei de soluçar, que nem criança. Era exatamente o meu tumor carcinóide.

Nessa hora, o que passou na minha cabeça foi: tenho quase cinco anos de acompanhamento por fazer. São três chances por ano de descobrir uma metástase. Se nem o Steve Jobs, com todo o dinheiro do mundo, os melhores tratamentos e até um transplante de fígado (!) morreu, se eu tiver uma metástase vou entrar nos 85% que morrem desse tumor.

Aqui eu faço um parêntese: ser jornalista é uma m#&%@. Quando tive o diagnóstico, fui direto nas fontes confiáveis saber tudo a respeito: descobri que o tumor é raríssimo, que acomete mais pessoas jovens, que não se sabe o motivo, e que em caso de metástase, a sobrevida em cinco anos é de apenas 15%. Informação é poder, e quando é com você fica martelando na sua cabeça, rs.

Depois do choque inicial, voltei ao otimismo e aos fatos: zero infiltração em linfonodos, descoberta rapida, cirurgia a jato e sem complicações, exames em ordem e vida saudável. E pra que chorar e sofrer por antecipação? Em vez disso, decidi seguir a filosofia dos grupos anônimos (AA, NA): só por hoje.

Aproveitando a deixa: é só, por hoje (hahaha)



5 comentários:

  1. A D O R E I,Laís.
    Tenho uma pessoa que amo muito enfrentando um tratamento, quase que saindo já dele e esse texto já foi mais um conforto pro meu coração quando penso no caso dela e de tantos outros que, assim como você, enfrentaram essa doença difícil.
    Um beijo,querida.
    Andresa Feijó

    ResponderExcluir
  2. Laís, te amo muito, obrigado pela partilha....
    sua vida sempre foi partilha, e continue assim, transbordando sinceridade, autoconfiança e competência afetiva, profissional... sabedoria do viver plenamente cada dia...
    afinal, o que sabemos nós sobre o amanhã?
    bjs e abraço gostoso
    Rose

    ResponderExcluir
  3. Amiga, que coisa linda!

    Como você escreve bem... Como é sensível! E ao mesmo tempo, forte!

    Te amo muito! Estarei sempre por aqui....

    Ana Paula Novo

    ResponderExcluir
  4. ... A força que transborda em você na verdade não nos surpreende muito, embora haja um processo de superlatividade que só se consegue quando se começa a "viver". Quando digo que não nos surpreende é porquê você foi, durante toda a sua infância e adolescência, direcionada a adquirir a força que hoje rege a sua vida. No entanto mesmo com todo o direcionamento que você recebeu e que deixa fluir em direção à humanidade ( humanidade no sentido divinizante e íntimo)você descobriu, sozinha, o caminho que deveria seguir,pois nunca lhe dissemos o que fazer, apenas exemplificamos com nossa vida e, por isso, e por causa de você ficamos cada vez mais, a cada dia, felizes por você ser quem é... Te amamos muito.
    Beijos.
    `Papai e mamãe.

    ResponderExcluir
  5. Dresa, fico muito feliz de ser útil por aqui - já que é tão útil pra mim "botar pra fora", o mínimo é que seja útil pra quem "bota pra dentro" minhas palavras... Rose, vc é sempre muito fofa comigo! Obrigada pelas palavras e elogios! Paula, vc sabe de tudo, né? Te amo, amiga! Papai e Mamãe, que coisa incrível ler um comentário de vcs aqui... Agradeço por vcs terem me ajudado a ser quem sou - e ao contrário do que vcs disseram, a ajuda foi muito grande MESMO!

    ResponderExcluir

Adicione mais uma curva a esta estrada